Lição 4: “Compartilhando a Missão de Deus”

Problemas com esta lição:

  •  Abraão é representado como exemplo de grande amor ao próximo e como intercessor pela salvação de Sodoma e Gomorra.
  • A lição diz que os leitores devem interceder pelos seus amigos, mas o seu livre arbítrio pode decidir contra a salvação, não importa o que façam.
  • O efeito da lição é levar os leitores a uma oração e proselitismo mais intensos, orientados para a missão.

Abraão parece ser a escolha do autor para um arquétipo de estar na missão de Deus. Esta semana a lição se concentra em Gênesis 18, onde Abraão recebe três estranhos, um dos quais é o Anjo do Senhor, e onde Deus diz a Abraão que destruirá Sodoma por sua maldade.

Sodoma era a cidade onde Ló, sobrinho de Abraão, morava com sua família. A maldade da cidade era amplamente conhecida, mas Abraão, preocupado com Ló, perguntou ao Senhor se Ele destruiria a cidade se ela tivesse 50 justos. Quando o Senhor disse não, Abraão continuou perguntando, contando de cinco a dez, até que o Senhor disse que não destruiria a cidade se ela tivesse pelo menos dez pessoas justas.

Abraão percebeu que a cidade era desesperadamente má e, quando chegou a dez pessoas, parou de perguntar.

A lição compara este questionamento das intenções de Deus com a oração intercessória – uma comparação que o texto não suporta. Em nenhuma de suas perguntas sobre Sodoma Abraão alguma vez implorou a Deus que não destruísse a cidade ou implorou que Ele fizesse o povo se arrepender. Ele não intercede por eles!

Em vez disso, o que a história revela é Abraão questionando a decisão de Deus. Ele parece incapaz de acreditar que poderia haver tão poucos justos em Sodoma. Aqui está o que Gênesis 18:24–26 diz:

“Suponhamos que haja cinquenta justos na cidade; o Senhor realmente os varrerá e não poupará o lugar por causa dos cinquenta justos que estão nele? Longe de Ti fazer tal coisa, matar os justos com os ímpios, para que os justos e os ímpios sejam tratados da mesma forma. Longe de Ti! Não fará justiça o Juiz de toda a terra?”

Então Yahweh disse: “Se eu encontrar em Sodoma cinquenta justos dentro da cidade, pouparei todo o lugar por causa deles” (Gênesis 18:24-26 LSB).

Aqui está o que afirma a lição:

Através do seu amor, Abraão esperava salvar todas as pessoas destas cidades, não apenas os justos. Certamente, Abraão sabia quão más e perversas eram as pessoas que viviam ali. Quem sabe que histórias ele ouviu sobre essas pessoas e suas práticas? E pelo que sabemos sobre eles, conforme revelado no próximo capítulo, com a história sórdida de Ló e a turba fora de sua casa (ver Gênesis 19:1–11), essas eram pessoas muito más.

Contudo, Abraão, conhecendo por si mesmo o amor de Deus, apelou a Ele em favor deles. Abraão sabia que os seres humanos sempre podem retornar a Deus em arrependimento. Para Abraão, salvar os habitantes dessas cidades lhes daria a oportunidade de se arrependerem.

No final, Abraão baseou o seu pedido no que ele sabia pessoalmente sobre o amor de Deus pelos seres humanos. Ele mesmo tinha um grande amor pelos pecadores e sabia que enquanto houver vida, haverá esperança de salvação.

Pelo contrário, no contexto Abraão estava lutando com Deus. Deus não mudou de ideia quando Abraão O questionou; no final, Abraão percebeu que Deus É justo e que não destruiria injustamente as cidades. Havia tão poucas pessoas justas neles que Ele resgataria uma família e destruiria todas as outras.

No final, Abraão viu e compreendeu. Ele não estava intercedendo; o autor da lição simplesmente impõe uma atitude “missional” a Abraão para ter autoridade moral para usar as Escrituras para convencer os leitores adventistas a se ocuparem, orarem e fazerem proselitismo.

O relato real do Senhor e de Abraão revela o oposto do que o autor da lição tenta retratar. Deus foi paciente com Abraão ao revelar-lhe que Seus propósitos e onisciência eram justos. Ele pacientemente permitiu que Abraão falasse segundo os critérios do Senhor e, no final, Abraão parou de perguntar e o Senhor terminou de falar.

Além disso, a lição ensina que somos obrigados a orar sempre pela “nossa missão”. Devemos orar para que as pessoas se convertam. No entanto, essas pessoas podem optar por recusar a Deus. É uma situação ambígua. Está implícito que o adventista está em desobediência se não intercede continuamente, mas mesmo Deus é limitado pelo livre arbítrio de cada pessoa. Como é dito pela lição:

O pequeno número de residentes de Sodoma que foram salvos tem implicações para a nossa própria missão: nem todos serão salvos. Gostaríamos que todos aceitassem Jesus e Seu plano de salvação, mas cada pessoa tem livre arbítrio. Nossa tarefa é convidar o maior número possível de pessoas a fazerem a escolha por Jesus. Enquanto cumprimos a nossa missão, Deus nos auxilia através do Espírito Santo, mas Ele nunca irá contra a vontade de ninguém. Livre arbítrio significa que, no final, não importa o que façamos, não importa o quanto rezemos, a salvação depende da escolha de cada indivíduo.

E há a realidade desesperadora do Adventismo: temos que orar e partilhar o Adventismo com aqueles que não são adventistas, mas Deus nunca “vai contra a vontade de ninguém”. No final, o livre arbítrio de cada pessoa tem a última palavra. Toda a salvação se resume à livre escolha de cada indivíduo.

A Bíblia, porém, diz que a salvação vem inteiramente do Senhor. Ele nos usa e nos pede para fazer discípulos, e as notícias do Senhor Jesus e de Sua obra consumada são nosso testemunho. No entanto, ELE assume a responsabilidade pela salvação de cada pessoa. Ele não está limitado pelo “livre arbítrio”. Ele torna possível que cada pessoa, nascida morta no pecado, ouça o evangelho e creia. Nós não abrimos os olhos dos outros.

Cada pessoa é responsável pelas decisões que toma, mas a salvação é do Senhor. É um mistério que não podemos explicar – mas a salvação não é um produto do livre arbítrio.

Jesus disse:

“Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia” (João 6:44 LSB).

“Todo aquele que o Pai Me dá virá a Mim, e aquele que vem a Mim eu jamais lançarei fora (João 6:37 LSB).”

Esta lição é típica do adventismo, “culpando” o leitor para que faça mais para converter pessoas, reforçando a visão adventista de que os membros são responsáveis ​​por trazer pessoas para a adesão e lembrando-lhes que até mesmo Deus tem que esperar pacientemente que os humanos façam o seu trabalho antes de Ele. pode fazer o dele.

Mais uma vez, esta lição vê a realidade através de lentes do grande conflito; Deus é limitado pelas Suas criaturas, e os humanos são responsáveis ​​por tudo o que acontece – até mesmo por “terminar a obra” para que Jesus possa regressar.

A Bíblia, porém, revela um Deus soberano e uma expiação consumada. Somos capazes de confiar Nele e saber que nossas vidas não dependem de nossas decisões erradas; antes, estamos em Suas mãos. †

Manuela Boscia
Manuela Boscia

Manuela Boscia é responsável pelas traduções dos artigos publicados nessa página. Nascida em uma família de quarta geração de Adventistas no Brasil, Manuela conheceu o verdadeiro Evangelho e hoje é livre para seguir a Jesus e proclamar a Mensagem da Salvação de Cristo com todos.

Artigos: 4

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